Li e acabei nos últimos tempos dois livros que muito queria ler, conhecer e saborear. Livros que de alguma forma fizeram parte de um imaginário, de um crescimento enquanto pessoa, sempre pela via da adaptação, fosse ela cinematográfica ou animada, mas nunca a obra em si. Eram livros cujas traduções que haviam para a língua de Camões, ou simplesmente não existiam ou eram más e por isso tornaram-se ao longo dos anos projectos adiados à espera de se cumprirem… e cumpriram.
Tanto
os Três Mosqueteiros de Dumas como Drácula de Bram Stocker são clássicos
novecentistas da literatura europeia, obras magmas dos seus períodos mas não
chegando a ser obras maiores da literatura mundial. E a leitura de ambas, ao longo
dos últimos meses formou em mim essa mesma opinião. Gostei muito de os ler, não
me desiludiram em nada relativamente ás esperanças que neles depositava, mas
não serão, de longe, os melhores livros que já li, nem tão pouco obras de
literatura que acendam aquela chama em nós que os tornariam livros de uma vida.
Bem escritos, contam histórias muito bem imaginadas, cheios de detalhes e
condicionantes de época que por vezes se tornam verdadeiras delícias ou
preciosidades, devidamente contextualizadas.
Os
Três Mosqueteiros, romance de capa e espada de pueril juventude, transporta-nos
para o reinado de Luís XIII e do cardeal Richelieu, para os ecos recentes das guerras
de religião francesa dos inícios do século XVII, para o complicado xadrez
político europeu da época, onde as principais potências europeias se digladiavam
em guerras pelo controlo e influência na Europa… o mundo não mudou assim
tanto!!! Os feitos de bravura, a galanteria, passando por cenas de amor e ódio,
pontuam a obra, recheando um história por demais conhecida, mas que ainda
assim, nos surpreende em pequenos grandes detalhes que as adaptações não quiseram
ou não acharam importante transportar. Como diriam os ingleses - the devil is in the details…
Quanto
a Drácula, é uma obra diferente, mais sombria, vitoriana, filha da sua época e
de viagens e contactos que o próprio autor terá tido investigando sobre o folclore
e a mitologia europeia. Em nada se assemelha, ou em muito pouco à aclamada
realização cinematográfica de Coppola no início da década de 90. Muito menos
sensual, muito menos romântica, no sentido e caminhos levados pelo filme. É
mais intimista e centrada no ser humano, na maldade e nos locais mais obscuros da mente.
Escrito em forma de diário não deixa de todo modo de se sentir a grande ligação
do autor ao mundo do teatro, nas falas e no exagerado dramatismo das mesmas em
certas partes do livro. Deliciosos os maneirismos linguísticos de Van Helsing,
ou de alguns estivadores ou dos camponeses romenos, bem como a presença constante
de um machismo descarado, típico da época.
Mas
até mais que a experiencia literária que um livro nos deixa, são as memórias
que deles e da sua leitura nos ficam, em associação com o nosso dia-a-dia e consequentemente
com a nossa vida… e essas são talvez gratas e eternas memórias… lembranças de
finais de dia mornos de Verão, acompanhados de quem amamos na Feira do Livro de
Lisboa, onde ambos foram comprados; uma bela sardinha que se tornou o mais querido marcador de livros que tenho; memórias de leituras solitárias numa
varanda iluminada por raios de sol poente, interrompidas pela voz de uma
criança linda que chega com a mãe da escola e chama o nosso nome em plenos
pulmões iluminando-nos a vida e trazendo um sorriso como só as crianças sabem
fazer; lembranças de noites de leituras partilhadas e entrecortadas pelos mais incríveis
momentos de paixão e partilha que um ser humano pode ter…
Desta
forma sim, foram leituras memoráveis, que jamais vou esquecer e que anseio
repetir…