sexta-feira, 19 de outubro de 2012

cogito ergo sum

 

 

Que somos governados por um bando de incompetentes, corruptos, seres inaptos e completamente nulos culturalmente, que nem arte tiveram na sua maioria para conseguir uma formação académica sem recorrer a esquemas e compadrios, já todos nós sabemos, ou pelo menos deveriamos ter uma ideia.
 
Mas lá está, não é novidade. É assim desde o final da década de 70 do século passado, mais, até me arriscaria a dizer que é assim, desde o famoso 25 de Abril de 1974.
Qual é a grande diferença então?! O dinheiro. O malfadado e tão imprescíndivel tostão que nos permite tocar a nossa vidinha para a frente, não passar fome, ter aquela falsa sensação de conforto e no caso de alguns ter uma vida boa com recurso aos grandes avanços tecnológicos da nossa era. Pois é, até aos últimos anos, ninguém, ou para ser mais correcto muito poucos, se preocuparam com o que a “nossa” classe política de mentecaptos andava a fazer, e deram-lhe rédea solta, carta branca, um chequezito assinado em branco em cada eleição... Pois, pensavam que era um boletim de voto, não, não, era um enorme cheque colectivo, assinadito em branco por todos nós e que a dita da classe politico-poucochinha, aproveitou da melhor maneira, e foi como dizia o cronista, á muito, muito tempo, “fartar vilanagem”... Mas aí poucos se importaram, havia aumentos/actualizações de salários todos os anos, horas extraordinárias em barda, subsídios para toda a gente, lugares na função pública para irmãos e irmãs, primos, tios e sobrinhos, havia ainda o Néné, o Figo e o Rui Costa (hoje temos o Cristiano e anda triste), o Euro, os estádios, as autoestradas, as Capitais da Cultura e as Expos, universidades para todos, carros, casas, créditos e telemóveis em abundância, que começavam no analfabeto da aldeia perdida na Beira e acabavam no cirurgião de renome internacional com consultório na Av. da Liberdade em Lisboa. Foram anos e anos de um facilismo podre, um conto de fadas enganador, os bancos davam tudo, tudo era virado para o consumo, para a massificação. E os ladrões a meter ao bolso, PPP's, concessões a amigos, fraudes no mercado imobiliário, privatizações... Quer se goste quer não, este é o Portugal dos últimos 35 anos. Quer se goste quer não, todos, por inércia, estupidez, falta de educação política, cívica e democrática permitimos que isto que se vê hoje, que isto que tanta indignação causa hoje, chegasse ao que chegou. E permitimo-lo com o real traseiro sentado na poltrona a assistir de camarote!
 
Não é desculpa para o que estes atrasados mentais que nos governam estão a fazer ao país, pois não, o povo podia ter sido na mesma ignorante e estúpido e ter tido a sorte de apanhar políticos honestos... mas isso raramente acontece, porque a classe política, é de um modo geral o espelho do seu povo. Mas o interessante é ver que esta história do espelho já não interessa tanto falar-se dela, acho que fere algumas susceptibilidades (é só um feeling que eu tenho)... será consciência pesada! Será por toda a gente saber de um modo geral que o outro que está ao nosso lado tenta fugir aos impostos sempre que pode; será que temos plena consciência que temos de facto um grave problema de produtividade, porque muita gente passa um terço do seu dia de trabalho em ocupações que digamos, não está a ser paga para as fazer; ou ainda a velha questão das cunhas, compadrios e luvas, que todos sabemos que acontecem por todo lado, mas que quando nos toca a nós, rapidamente esquecemos o quão obscena nos parece a ideia para abraçarmos a causa com todas as nossas forças, mesmo que isso lixe (com F grande) a bom lixar, o tipo que esteve no concurso ao nosso lado e que só por acaso é vinte vezes melhor e mais competente que nós...
 
Pois é... espero ao menos que tenham consciência que por essas ruas e praças por onde se espraiam as manifestações, legitimamente indignadas, toda esta dura realidade que acabo de esplanar está lá de braço dado, punho erguido, cartaz cheio de piadolas sentidas e duras, verdadeiras, críticas aos nossos governantes, a desfilar , a sentir-se única, poderosa, invencível... e eu acho muito bem que assim seja, desde que exista lá no meio a tal consciência! (mas tenho as minhas dúvidas)
 
NÃO HÁ ALMOÇOS DE BORLA, já o dizia alguém, de um modo ou de outro eles vão ter de ser pagos, e normalmente a factura vem quando dói mais (além de que costuma ser por trás). A entrada para a moeda única teve um preço, alguém se lembrou na altura de perguntar quanto é que ia custar a “lagosta suada” que durante estes anos andamos a comer? Não me lembro de ter visto manifestações na rua, quando os patriarcas da democracia deste país traçaram o rumo e o nosso destino ao longo das últimas décadas em políticas europeias de agricultura, pescas, industrias de produção e transformação perfeitamente ignóbeis e destruidoras?! O facilitismo, o chico-espertismo, o que se lixe, recebo o meu ao final do mês, tenho a minha vidinha feita, eles que façam o que quiserem com o (meu) dinheiro dos impostos. Aliás, penso que não andarei muito longe da verdade, infelizmente, se disser que provavelmente poucas pessoas têm consciência de que o dinheirito que os políticos utilizam no dia a dia provém de todos nós! Pois só assim consigo perceber aquilo que é, aquilo que foi, o alheamento das pessoas em relação á vida política. Só assim consigo ter um laivo de desculpa para o que têm sido os episódios de exercício democrático neste país, em que serão mais as semelhanças com o mercado municipal ás Quartas do que com um regime de governação sério. Durante a nossa existência democrática o que se fez foi votar em quem dava mais, em quem prometia mais, até em quem tinha mais sex apeal, tal como nas bancas dos ciganos das praças e mercados, escolhemos aquele que tem mais lábia, o que fala melhor, aquele que tem os preços mais baixos, mesmo que se saiba que a mercadoria é roubada, que existem empresas que dão postos de trabalho que são lesadas com isso, mas mesmo assim, a clientela fiel lá está. O nosso sistema democrático é assim, na sua mais perfeita caricatura... anedótico!
 
Tão anedótico que recentemente tivemos o caso da substituição da frota automóvel da bancada parlamentar do PS, onde um tipo de nome Zorrinho (acho hilariante), diz básicamente (versão livre e traduzida!) - meus amigos se querem democracia, têm de arcar com os custos. Democracia é isto, eu ter motorista e andar de Audi, porque não vão querer que ande de Clio... É preciso dizer mais alguma coisa... pois, também achei que não!
 
Resumindo toda a gente sabe que os políticos são corruptos, toda a gente sabe que eles nos roubam, mas nada se faz, esperamos as licitações democráticas, escolhemos o meio termo entre as promessas de tirar menos e as mentiras de dar umas migalhas, e democraticamente elegemos as nossas cores... nada se faz, excepto, quando nos vão aos bolsos. Quando mexem no nosso sacrosanto ganha pão, nesse deus mundial do trabalho e da (in)justa remuneração do oprimido trabalhador pelo patronato malvado (Marx estaria orgulhoso), aí pára tudo! Alto e pára a feira...
Ele são os movimentos cívicos (acho que agora está na moda dizer apartidários, mas depois os cromos do costume andam lá na mesma a mandar umas bocas); ele é a esquerda toda de bandeira vermelha e t-shirt Che Guevara, que a maior parte da miudagem (aquela que milita nos J's e grita alto Fascismo nunca mais 25/4 sempre, em que a coisa mais inteligente que alguma vez pensaram foi na diferença entre a Super Bock e a Sagres numa noite de sábado no Bairro e alto lá...) pensa que era um tipo porreiro (pá) que aparece numas fotos a fumar uns charutos e que devia ser hippie e ter uma plantação de algo ilegal que dava altas “mocas”; uma infinidade de gente indignada, com razão, mas que só o é porque de repente, sentiram o chão a fugir debaixo dos pés, que é como quem diz viram um Coelho a ir ao fundo dos seus bolsos e rapar pouco que restava.
Não, infelizmente não houve uma mudança em Portugal, se as imposições, a tal factura, dos tais almoços que andámos a comer de borla (os de lagosta para alguns), que falava lá atrás, durante a últimas décadas, não tivesse chegado, tudo estaria igual ao de sempre. Mas agora há coisas a pagar, coisas que não podemos pagar e como os políticos são iguais aos chico-espertos que os elegeram, estão a fugir e a carregar de impostos e taxas naqueles que andaram iludidos durante todo este tempo. Então saímos para a rua e de repente o engraçado sr. Coelho, que á um ano e pouco foi heroica e democraticamente eleito esta prestes a virar coelho frito, e o sr. velhinho simpático que come bolo rei de boca aberta e diz que é presidente, também está pronto para o linchamento... E eu confesso que iria apreciar a coisa, se na mesma leva de fusilamentos franquistas, fossem os Soares e Sampaios, Socrates e Guterres, Louçãs e Jerónimos, Freitas e Portas e o resto da camarilha mafiosa. Mas depois penso, se assim fosse, será que 60% da população portuguesa se ia entregar voluntariamente para serem abatidos numa qualquer praça de touros. É que na minha maneira de ver as coisas, tão culpado é o que rouba, como o que manda roubar, como o que acendeu os holofotes, desenrolou o tapete vermelho e se sentou a ver o espectáculo...
 
É que estes bandidos estão a roubar-me, mas “eu”(um eu muito magestático entenda-se), além de os ter escolhido para me assaltar ainda me estive a lixar para o que esses gatunos andaram a fazer com o meu dinheiro ao longo de décadas. Agora que me foram ao dito, assim mais á bruta, qual é a minha moral para lhes chamar ladrões?!
 
Dizem – Portugal mudou depois do dia 15 de Setembro de 2012 – e eu penso, não sejam estúpidos por favor... ou então pelo menos não insultem a inteligência de quem usa a cabeça para um pouco mais que futebol, telenovelas e casa dos segredos. Nada mudou, apenas houve uma reacção a um conjunto de medidas idiotas, que conseguiu arrancar as pessoas á sua tradicional letargia cívica. Se amanhã este governo cair e o chupista do Seguro vier prometer mundos e fundos (que não tem, nem pode), o pessoal, aquele mesmo que mudou no passado dia 15, vai tudo a correr passar o tal cheque em branco, desculpem, por a cruz no boletim e elege-lo com mais de 30% dos votos...
Porque para que os políticos mudem, é preciso que primeiro mudem as pessoas, que evoluam, que se cultivem, que cresçam civicamente e olhem á volta com olhos de ver, para perceberem que se remarem para o mesmo lado conscientes das escolhas que fazem talvez cheguem a algum lado. Mas isso é uma mudança que demora mais do que por as contas do país na ordem, é uma mudança de mentalidades!