sexta-feira, 27 de julho de 2012

hic et nunc


    Deixando o politicamente correcto de parte, para fugir à hipocrisia, existem pessoas que nada fazem neste mundo, mas que por cá perduram ad aeternum, enquanto outras partem cedo demais. O autor destas obras é um desses casos.
Tony Judt (1948-2010), nasceu em Londres, foi historiador, ensaísta e professor universitário em Inglaterra e nos Estados Unidos; sionista marxista na década de 60, marxista na de 70, em idade mais madura considerava-se a si mesmo e nas suas próprias palavras como um  " universalist social democrat" e assim continuou até ao final dos seus dias.
Admirador convicto das sociais democracias do norte da Europa, defensor da tese de país único para a questão entre Israel (cujo estado considerava um anacronismo) e a Palestina, critico acérrimo do capitalismo desenfreado e um defensor do estado social saído da Segunda Guerra Mundial mas devidamente adaptado aos nossos dias.

    Descobri este insigne autor nas minhas deambulações pelas estantes de história da livraria. Foi amor á primeira vista. Comecei por folhear o "Um tratado sobre os nossos actuais descontentamentos" e acabei a devorá-lo avidamente. Uma análise crítica, com substância, baseada na história e numa leitura fundamentada do que se passa á nossa volta, sem os chavões e a verborreia balofa a que os indignados desta Europa nos têm habituado. Onde notamos o cuidado de explicar o porquê de falharem os modelos, os erros atrás de erros que se foram cometendo e aquilo que, ainda se pode fazer para minorar os estragos.

    De seguida atirei-me ao "Pós-Guerra" e ao "O Século XX Esquecido". Se no primeiro fazemos uma viagem, intensa, que vai esmiuçando os anos do pós Segunda Guerra Mundial. Onde por entre os escombros de uma Europa arrasada, o autor nos vai guiando pelos caminhos da reconstrução de mãos dadas com os obreiros da mesma, em direcção ao mundo em que vivemos; já "O Século XX Esquecido" é um enorme alerta, que esperemos não premunitório, para o que nos espera. Neste brilhante ensaio histórico, Judt lembra-nos, ou melhor tentar relembrar-nos que a história existe para recordar e ensinar ao homem o seu passado, o que de heróico e inovador existiu, mas também, e especialmente, o que de pior se passou, pois é exactamente esta parte que temos tendência a colectivamente esquecer. A partir de finais da década de 80, inícios da de 90, com a mudança de paradigma da URSS, com a ténue e envergonhada abertura da China ao mundo ocidental, com as crises petrolíferas ultrapassadas e o mundo a todo o vapor a caminho da era dourada do capitalismo o futuro só poderia ser esplendoroso. Por isso para quê pensar, estudar, ter em conta os exemplos do passado recente, para quê ensinar aos vindouros sobre a barbárie desses primeiros 50 anos... não... isso nunca se voltará a repetir!!! Nas vésperas da Primeira Grande Guerra, por toda a Europa se vivia uma «belle epoque» sem precedentes, o que se passou depois todos nós conhecemos e é bom que não o esqueçamos, pois isso, só por si, não garantirá que não se vai repetir, mas já será uma boa ajuda. O século XX, tal como a Europa do século XIX ou XVI, o Império Romano, ou mesmo as Cidades Estados gregas ainda nos podem ensinar muito. Deles podemos retirar úteis lições para sabermos lidar com o presente e preparar o futuro, pois, por mais educação, higiene, saúde ou inovação que exista, a única e principal constante da nossa história é e será o Homem. Os seus instintos, e a sua natureza podem evoluir mas dificilmente mudarão...

    Posteriormente, desfrutei da leitura do "Chalet da Memória", um livro mais intimista, onde através da reunião de vários textos avulsos, que não foram escritos a pensar na publicação ficamos a conhecer mais o homem que está na origem do historiador. Não resisto a fazer especial referência ao primeiro escrito deste ensaio, onde Judt nos explica o porquê de chalet da memória (em vez de palácio da memória), como técnica mnemónica, durante as longas noites sem dormir a que era votado, devido à doença que o vitimou (esclerose lateral amiotrófica).

    Há poucas semanas degustei o pequeníssimo ensaio "Uma Grande Ilusão? Um Ensaio sobre a Europa", recém editado pelas Edições 70, aliás como o resto da obra, que apesar de escrito em 1996, está, infelizmente, tão actual como se tivesse sido escrito ontem, o que é bem revelador da qualidade e capacidade de análise deste senhor.

    Não será porventura linear a sua leitura para toda gente, devido essencialmente à quantidade de informação que é cruzada ao longo das páginas das suas obras, mas para quem tenha o interesse e a paciência é seguro que não sairá arrependido. Judt oferece-nos uma visão magistral da Europa e do mundo em que vivemos e do mundo para onde caminhamos, sempre com o nosso passado recente como referência e ponto de partida.

    Termino com uma pequena frase retirada de uma das últimas entrevistas que concedeu, poucas semanas antes de falecer -  "I see myself as first and above all a teacher of history; next a writer of European history; next a commentator on European affairs; next a public intellectual voice within the American Left; and only then an occasional, opportunistic participant in the pained American discussion of the Jewish matter . . ."

sexta-feira, 20 de julho de 2012

ab initio

     Não tendo muito jeito para apresentações, não poderia deixar de, em jeito introdutório, começar por de algum modo traçar em poucas linhas o que por aqui se verá escrito noutras tantas.
  Veremos livros, muitos livros, História até não podermos mais, alguma actualidade reflectida (ou simplesmente improvisada) e mais qualquer coisa que apareça e tenha o mínimo de interesse.
  Quem de amores e paixões sofre, mais tarde ou mais cedo, não conseguindo contê-los em si, acaba por gritá-los ao mundo. pois bem, este é o meu grito!